sábado, 22 de dezembro de 2012


Canteiro de Obras


Muitos apoios de madeira e poucas visões;
Entre máquinas construindo paisagens: o futuro.
Os que passam deslumbram o caos surdo e indefinido;
Jogam expectativas e contemplam apenas o que veem.
É um sujo massacre de visões, é um lamaceiro que desperta.

É o mictório de Duchamps, choque que atrai.
A feiúra tem um ar de vanguarda (- efeito da inércia-).
Diria que entre a estética e a razão há fagulhas de desejo.
O que importa é sublimar precariedades só por não resistir à falta,
Conceituando o que de realidade se apega.

Os tapumes tentam esconder projetos de gênio.
Enquanto que, indiferentes ao todo, há homens.
Eu passo feliz por não saber tudo; eles só assoviam.
Porém uma leve fumaça de cigarro queima meus pulmões;
Chego a pensar que sou um deles- na verdade, sou.
Tudo ali é uma dura rotina, humana, processual...
Lá há operários, mistérios e alicerces.

São coisas das quais não se duvidam- destino áspero-.
Muitos corações se fecham no concreto.
O sonho como começo lá termina,
E só quando se some é que de lá se desprende.
Eco de nós, coisas supérfluas, obra em si presa ao chão.

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