Aviso
Ouve Tibúrcio! Vês a tinta que ainda espanta multidões?
Não imagina o quanto tive medo de sofrer o trágico destino;
Aquele pintado com as penas de Dante.
Sortilégio é passar em tudo como a foice de carrasco.
Ouve Tibúrcio, não há mais corações!
Nem o silêncio há de incomodar a nós, cadavéricos,
Porque sumimos da imaginação alheia como Henrique, o infante.
Solta o teu riso angustiante naquelas portas cinzas!
Ontem mesmo ouvi gemidos de dor, puros lamentos.
Eles são tão virgens para os infortúnios que mal sabem rezar!
Ataca sem piedade, Tibúrcio, arranca suas córneas já sem brilho!
Eles já não sabem mais amar, por isso é que perecem.
Na aliança, restam apenas alguns retirantes.
Aproveita enquanto se pode ainda ter filho,
Aumenta o golpe, suga os pequenos heroísmos!
Arranca essas flores que crescem!
Já que o tempo passa sorrateiro, aproveita, Tibúrcio, o ano inteiro!
Os impele a implorar pela leveza, pelo conhecimento sublime.
Faz com que a arte seja tão horrenda que só enfeitice, distorcendo...
Não permita mantras, resistências individuais, ataque o grupo!
Mine as conversas paralelas, essas de esquina.
Retire das abelhas o mel, dos meninos as meninas.
Faz que o mediano estabeleça as normas, enaltecendo medíocres.
Eles só saberão os efeitos, não o que os oprime.
Por isso é que te quero perto, Tibúrcio! Se limite a fazer...
Se não aprenderem,
Os deixe ameaçados, ruminando mistérios.
Muitos ainda não estão preparados para revelações.
O destino vai se encarregar do resto.
O essencial é que saibam da passagem...
O brilho que eles perdem, ganharão outrora.
Adianta os seus dias, seja o cão das horas.
Mas não ajas assim tão descaradamente, saiba se fazer discreto.
Espreita, levanta a guarda e tolera, como bom professor.
Deixa que eles façam o sentido, e com os peitos descobertos,
Saiam de si.
É assim que sois, grande morte, ideal e medrosa.
Sabendo que é pouca, aproveita a sorte.
Altiva e atraente voa sobre nossas cabeças.
Passeia apenas como mau agouro, sempre assim de tão belo porte.
Sabe de sua fragilidade, pois, ao simples sinal, elas que desapareçam!
O que tem de mal existir coisa de tão raro enigma?
Sabes que suas asas nunca chegarão as de Ícaro!
Por causa disso a divindade a usa para despertar, puxar o seus a prumo,
Porque ela não passa de uma mancha preta no chão do infinito.
Ela é, senão, rumo!