quarta-feira, 28 de maio de 2014

Mogno Viver


Móvel de canto,
Sua simples presença já diz muito;
Estratégia de vida é não incomodar.
Houve tempo remoto,
Muitas pernas desavisadas
Em ti bateram, com razão de esbravejar.
Hoje, porém, suma tragédia,
Ilusão sua no permanecer;
Apaticamente sobrevivente,
Lá no quarto andar do Edf. Marine,
Muitos te tomam de cabide,
Quando não, de apoio a copos;
Que fim este...tão vil!
Enciclopédia da decadência.

Alguns não entendem,
Só que há movimento na estática coisa.
Dona Laura já pensa em desfazer-se do engodo;
Antiquário acertado e tudo mais,
Depois de décadas servindo à família Moreira.
Pinho de cor embrutecida,
Jovializará suas feições com segredos.
Sementeira de outros sonhos,
Caberá a outros estandartes,
Decidir seu testemunho.
Quem sabe a poeira não camufle os riscos,
E um desavisado comprador ache
Proveito ao reciclar.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Lugar Comum 




O avelã dos teus lábios,
Na construção de etéreas luzes;
Mecanismos de ação: os seus beijos
Trazendo-me pesarosos segredos.
Nunca dantes navegado,
O seio do meu querer oceano;
Essa força maior, ventania,
Jogava-me contra as pedras: tua direção.


Fortaleza maior é emergir-
É quando o fôlego sobrevive,
E os revezes calcificam certezas.
Minha solidão é prova viva,
Nada mais que isso [embora muito]
Por ter presenciado quarentena nossa.
.
.
.
Falei de ti coadjuvantemente,
Embora não pareça.


O porvir é incerteza.
Meu caminho, tortuoso.
Trilhar em pé e fortemente,
À procura de vigor íntimo.
Qualquer variável a considerar;
O bem estar saciado,
E o meu desejo contemplado,
Assim esperando terminar.


Pressinto em minhas carnes,
A sucção de boas seivas,
Tudo converge à reconstrução.
Essa nuvem de expectativas,
Nada mais é que intuição-
Maravilha restante de ressaca amorosa.


Hoje tive um prenúncio;
Uma folha pequena-
Levemente trazida, veio a mim.
Quem dera trouxesse respostas,
Quem dera amenizasse.
Somos Iluminados pela mesma luz densa,
E um sussurro de paz acalenta-nos nessa praça.
Essa noite está tão fria...
Eu sigo.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Aprendi a desenhar nos sonhos a medida de quase tudo


Não superei os insucessos
De todos os caminhos traçados
Atolei-me no alheio querer,
No esnobe do olhar, na boca de pedir
Equiparei o meu medo das portas
À maneira extravagante dos pecados
Fui tudo que pude, materialmente a ver,
Sem saber que pelo atrito, morria o agir.


Não fui pelos meus dedos o tato;
E o brilho desfez-se com tal maestria;
Era o imaculado ardor jovial,
Simples conteúdo do fato;
A grandeza que tinha em demasia;
Suficientemente para calçar mil pés;
Tudo hipoteticamente dependente;
Um movimento vital bastava,
Mas era ingênuo, anormal,
Sensível para eterno revés;
Calvário meu, tudo em gente.


A lucidez veio em figura esguia,
Cobrando contas altas demais,
Da fantasia retirando parcelas
Contrariando sentença que se lia,
Sendo, porém, incapaz,
De omitir as coisas belas.


Oniricamente, sou o que alivia;
Frio para tudo enquanto disforme,
Pérsia em meu íntimo, tão minha!
Saudável em sua calmaria,
Não apenas a noite dorme,
Eu também, pleno de tudo, em terraços,
Cosendo com formosa linha-
-Universo transfigurado em paz;
Sou tenda a abrigar abraços.