sábado, 22 de dezembro de 2012


A Quem Nada se Deve



Cadê a minha memória?
Será que foi embora contigo, meu benzinho?
Bebi-te matutinamente com o meu café,
E se muito li, foi porque estendestes os teus braços.
Se tudo correu bem foi porque deixamos a névoa dissipar segredos;
Eu te admirei só enquanto não te amei demais.

Aquele pássaro não cantava pra mim...
(ah, quando saíste aquela relva nunca mais serviu de abrigo!)
A solidão me fez, fui me tornando um lógico objeto.
- a minha mesa é tão grande para pequenas refeições-
O afeto não mais a ronda com suas franjas de espíritos.
E tenho de me contentar com vazios...
O que há de mais frio do que reviver sinceros momentos?

Minha amada caminhou na direção da sua humanidade,
Foi com poucos remorsos, alguns da gente, o resto dela.
Nada a constrangia mais do que fingir.
Sufocou-se com a sua escolha, e eu nada exigi.
Viajou num dia em que não li o horóscopo nem vi o tempo.
Penso que ela saiu numa manhã, pois queria me dizer algo
- a beleza do dia contrastava com minha tristeza, mas não me agredia-
Não compreendi o porquê, mas ela fez questão de deixar lembranças.
O lenço dela ainda está no cabide, o seu perfume ainda exala presença.
Sinto que a sua marca nunca acabará enquanto houver a mim...

Nada se deve quando tudo se deu, e embora se pense e se vá,
Tudo permanece o mesmo na fadiga e no sublime.
Ah, meu ex-eterno amor, não digas nada!
Ficarás aqui como um quadro para um homem que de tão jovem,
Morreu ardendo num sentimento tão senil quanto o próprio tempo.

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